Milho crioulo de Caruaru sustenta tradição rural e garante renda a famílias do Agreste

Milho crioulo de Caruaru sustenta tradição rural e garante renda a famílias do Agreste

Semente preservada por gerações mantém produção livre de transgenia e reforça a economia do Assentamento Normandia

O cultivo do milho crioulo no Assentamento Normandia, em Caruaru, tornou-se um eixo de sustento para dezenas de agricultores que trabalham em regime de produção familiar. A variedade, mantida sem transgenia e sem uso de agrotóxicos, abastece o flocão utilizado no cuscuz produzido pela cooperativa local e distribuído para diferentes mercados do país.

As sementes, guardadas e replantadas ano após ano, seguem o mesmo padrão utilizado pelos antepassados. Em 2025, o grupo colheu cerca de 120 toneladas em 80 hectares. O material segue para agroindústrias da região, onde passa por beneficiamento antes de ser entregue a programas públicos de alimentação e empresas do setor.

Para os agricultores, o milho crioulo é mais que produção. É identidade. A ausência de transgenia preserva a composição natural do grão e reduz a exposição de trabalhadores e consumidores aos defensivos usados no cultivo industrial. Entre os defensores da tradição está o aposentado Genésio Severino, quase sete décadas de trabalho na roça, que ainda planta ao lado da esposa, Maria José, com a mesma rotina de quando começaram.

Edilson Barbosa, liderança local, reforça o valor simbólico e econômico da semente. Ele explica que guardar o milho e replantar no ano seguinte mantém a autonomia das famílias e evita gastos com variedades híbridas, que chegam ao mercado por valores que podem ultrapassar 60 reais o quilo.

A cooperativa atua também no fornecimento de flocão para o Programa de Aquisição de Alimentos e mantém contrato com a Companhia Nacional de Abastecimento para entrega de mais de 100 toneladas. O assentamento reúne mais de 40 famílias. Antigos funcionários de fazendas, hoje administram suas próprias áreas. Para Seu Antônio Marques, essa virada foi decisiva e trouxe dignidade ao trabalho no campo.

A força coletiva aparece ainda no sistema de armazenamento do milho. Silos de lona garantem ração animal durante o ano inteiro, com capacidade que chega a 500 toneladas. O milho também mantém viva a cultura alimentar do Agreste, presente em pratos típicos como pamonha, canjica e o tradicional milho cozido, especialmente no período junino.

O cuscuz criado a partir do flocão produzido no assentamento carrega essa cadeia de memória e resistência. Do plantio à mesa, o alimento reafirma práticas antigas que persistem apesar da expansão de sementes modificadas e do avanço de modelos agrícolas dependentes de insumos industriais.

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