Entenda a data
Nesta terça-feira será comemorado o 7 de Setembro, dia da Independência do Brasil. Muito se reflete em relação ao significado desse dia. Diversos acontecimentos influenciaram na declaração da independência do país no ano de 1822. Em entrevista ao portal NE10 Interior, o professor de História Gerardo Neto explicou o contexto da data.
Em 1949, o dia 7 de setembro se tornou feriado nacional e alguns elementos como o patriotismo e o nacionalismo passaram a ganhar mais força. Com o passar dos anos até a chegada do século XXI, a data também passou a ter outros significados e novas visões, levando em consideração o contexto do país.
Qual é o significado do 7 de setembro?
De acordo com ele, o significado do 7 de setembro pode variar bastante levando em consideração outras épocas do Brasil. “Em 2021, o significado é totalmente diferente de 1970, por exemplo, quando a gente estava vivendo o regime militar. Diferente do que era em 1938, quando a gente estava em outra ditadura. Os significados são históricos. Cada época viu o 7 de setembro e cada um atribuiu uma importância diferente a ele”, afirma.
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Porém, a data esteve sempre atrelada a independência do país e a ruptura com Portugal, que era a metrópole oficial na época. O professor destaca que não podemos colocar todos os acontecimentos em apenas uma data. “No processo histórico, as causas se encontram, muitas vezes, anos antes. O 7 de setembro vai ser o final de um processo de libertação que já vinha ocorrendo desde o final do século 18, de movimentos separatistas em Minas Gerais, como a Inconfidência Mineira, ou a Conjuração Baiana e a Revolução Pernambucana”, explica Gerardo.
A vinda da família real para o Brasil e os países vizinhos (as chamadas “Repúblicas Latinas”) passando por processos de emancipação são alguns dos fatores principais para a aceleração do processo de independência.
“Há uma tradição quase mitológica da nossa independência. Durante muito tempo se atribuiu a Dom Pedro I a figura de herói da independência e ao famoso grito do Ipiranga, que atualmente sabemos que talvez nem tenha existido esse grito. […] Foi colocado por muito tempo o 7 de setembro como um produto da vontade de Dom Pedro, mas isso é um grande equívoco porque os processos históricos não ocorrem por uma vontade individual. A participação de Dom Pedro foi grande, mas ele acabava sendo o reflexo de uma aristocracia que queria manter os seus privilégios”, diz.
O Brasil estava vivendo um momento de muita tensão. A oposição ao governo português e a Dom Pedro, aliada à ideia de liberdade que vinha da Europa com o iluminismo, faziam com que os desejos de ruptura começassem a ficar mais claros, tanto para a elite quanto para as camadas médias. “Em 1820 e 1821, ocorreu um episódio em Portugal, a Revolução Liberal do Porto, que fomentou bastante a ideia de independência. Ela teve um papel fundamental porque exigia o retorno de Dom Pedro e da família real e a recolonização do Brasil. Diante disso, Dom João voltou e deixou Dom Pedro no Brasil”, acrescenta o professor.
De acordo com o professor, o dia 7 não foi tão “heroico” como muitos pensam: “Dom Pedro estava indo de Cubatão a São Paulo, tentando angariar mais apoio, e mandou a comitiva ir na frente porque havia sido acometido por uma congestão intestinal. Ele estava em uma situação constrangedora, que os livros não falam muito. Chegou um mensageiro com um bilhete da capital. Há uma divergência entre os historiadores sobre de quem seria esse bilhete, se de Maria Leopoldina ou José Bonifácio, que dizia o seguinte: ‘O fruto está maduro. Medidas de panos mornos não adiantam mais. Decida-se’”.
Por causa da pressão de vários embaixadores e focos de insatisfação pelo Brasil, a comitiva voltou ao Rio de Janeiro para resolver a situação. Então, segundo Gerardo, não aconteceu aquela cena retratada por Pedro Américo no quadro “Grito do Ipiranga”, que foi feito por encomenda e acabou criando uma visão romantizada sobre a independência.
Apesar do rompimento com Portugal, a ruptura não foi tão profunda e nem chegou a abalar as estruturas sociais. “A sociedade queria discutir a liberdade externa, mas ainda não queria discutir a liberdade interna”, conta o professor. Portanto, o “grito da independência” demorou a propagar-se pelo restante do país, já que ainda não havia uma centralização do poder. Foi a partir daquele 7 de setembro que o Brasil passou a ter uma identidade nacional mais desenvolvida.