A cada segundo, o tempo que leva para a gente piscar, são produzidos 1 300 ovos em nosso país. No ano passado, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) contabilizou a produção de 53,5 bilhões de unidades — cerca de 4 bilhões a mais do que em 2019. “São números impactantes”, avalia Ricardo Santin, presidente da entidade. O salto na oferta está atrelado, claro, ao crescente apreço da população por esse item. Para ter ideia, de 2019 para 2020, o consumo anual por pessoa passou de 230 para 250 ovos. O alimento anda na crista da onda — e as redes sociais expõem a tendência. Seu amarelo vibrante embeleza fotos do café da manhã ao jantar, e em diversos formatos: mexido, frito, pochê, na omelete…
O movimento é percebido pelos profissionais de saúde, que têm suas hipóteses para tamanha popularidade. “Há um maior interesse por dietas ricas em proteínas e com menos carboidratos. Então, de manhã, as pessoas começaram a colocar o ovo no lugar do pão”, avalia Maria Fernanda Vischi D’Ottavio, nutricionista do HCor, na capital paulista. “Temos visto ainda uma transição para o vegetarianismo, e esse é um alimento que entra como opção de fonte proteica nas principais refeições”, acrescenta.
Aliás, a mudança nem precisa ser completa. Hoje, os chamados flexitarianos são um grupo em ascensão — eles não excluem a carne vermelha totalmente, mas se esforçam para minimizar sua participação no cardápio. Aí, o produto vindo da galinha se encaixa que é uma beleza. Outro ponto em seu favor é o preço mais acessível — sobretudo num contexto como o dos últimos anos, em que o valor da carne vermelha pode assustar quem encosta no balcão do açougue.
O ovo em alta
- 49 bilhões de ovos foram produzidos no país em 2019
- No final de 2020, a produção ultrapassou 53 bilhões de unidades
- 230 ovos: foi o consumo médio por pessoa em 2019
- Em 2020, a média subiu para 250 ovos por cidadão
Para o presidente da ABPA, a trajetória do ovo rumo ao posto de queridinho é marcada principalmente por campanhas de esclarecimento a respeito de seus benefícios à saúde e a desmitificação de que ele coloca o coração em perigo. A confusão surge vez ou outra porque o alimento é abastecido de colesterol. “Mas um grande estudo mostrou que, quando a substância vem da dieta, não é tão determinante para a elevação do colesterol ruim no sangue”, conta a nutricionista Valéria Arruda Machado, diretora executiva do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). De olho nisso, as diretrizes americanas nem contam mais com a recomendação de restringir o colesterol dietético a determinado valor. Porém, pedem que essa característica seja levada em conta ao elaborar o menu.
Por aqui, o Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) acaba de atualizar seu posicionamento sobre o consumo de gorduras e a saúde cardiovascular. Segundo o documento, as evidências atuais não são capazes de traçar uma relação entre a ingestão de ovos e os problemas cardíacos. “Os estudos trazem resultados variáveis porque dependem de como foram feitos, do perfil da população e do padrão alimentar como um todo”, conta Maria Cristina de Oliveira Izar, cardiologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora da diretriz.
Por isso, os experts apreciam as chamadas revisões, que analisam um compilado de pesquisas similares. “E elas apontam que, quando se come cinco ovos por semana, e até três por dia, pode ocorrer um aumento discreto no colesterol. Só que a molécula seria de tamanho maior, que é mais facilmente removida da circulação”, diz.